O arquitecto portento
Oscar Niemeyer viveu cento e quatro anos, assim por extenso é que está bem, muitos dos quais a fazer grandiosidade: palácios, catedrais, museus, parques – e outros tantos a elevar o modernismo em curvas e formas sinuosas, espírito livre e revolucionário, a projectos mais pequenos porém grandes, sempre grandes.
As casas e o comunismo
A convicção política de Oscar Niemeyer está bem visível na opinião relativamente às casas residenciais que projectou – não pelo resultado sempre apreciado pelo mundo mas pela importância do colectivo, construções públicas, em detrimento do individual. A mais conhecida é a curvilínea Casa das Canoas, projectada para ser a sua própria casa no bairro carioca de São Conrado – uma casa transparente e despida pronta a entregar-se completamente à vegetação envolvente – e uma das grandes responsáveis pelo sucesso de Oscar Niemeyer fora do Brasil. Mas há uma extensa lista de residências no currículo do arquitecto, nomeadas de acordo com os respectivos proprietários: Juscelino Kubitschek; Cavalcanti; Francisco Pignatari; Darcy Ribeiro; Anne e Joseph Strick; e Orestes Quércia. Em todas elas, o arquitecto priorizou a perfeita implantação na topografia e a sua integração com a paisagem.
Criação pela experiência
Oscar Niemeyer sabia, no entanto, que as casas – domínio individual – ofereciam um terreno mais livre para experimentações. E, experimentando, Oscar Niemeyer foi adquirindo e burilando o seu estilo: desde o modernismo aprendido com Le Corbusier passando pela mistura com as influências do período colonial brasileiro até à supremacia da curva feita de concreto.
“Tudo começou quando iniciei os primeiros estudos de Pampulha – a minha primeira fase –, desprezando deliberadamente o ângulo recto e a arquitectura racionalista, feita de régua e esquadro, para penetrar corajosamente nesse mundo de curvas e rectas que o concreto oferece” dizia, em entrevista, o abençoado Oscar Niemeyer. “Devo confessar também que, quando comecei os meus projectos em Brasília (1956), eu já estava cansado de dar tantas explicações. Eu sabia que tinha experiência para ser livre, e não me importavam as críticas inevitáveis contra os meus projectos.”
Literatura sobre Oscar Niemeyer
Não falta literatura sobre o trabalho de Oscar Niemeyer, obras que comprovam a importância vital dos projectos residenciais na carreira deste arquitecto apesar da relevância que terá dado às construções públicas. Este foi o homem que, cumprindo-se como arquitecto, levou – e fez nascer – poesia aos grandes centros urbanos a partir da década de trinta.
Quem vai algum dia deixar de lembrar aquela forma estranha e extra-terrestre do Museu de Arte Contemporânea em Niterói? Ou o sambódromo alegre, arco triunfal, no Rio de Janeiro? Ou o Centro Cultural Principado, tão colorido, das Astúrias? Ou a casa sensual e fresca das Canoas?